As “duas faces” da crise hídrica:
escassez e despolitização do acesso à água na Região Metropolitana do Rio de Janeiro
DOI:
https://doi.org/10.18472/SustDeb.v9n2.2018.26702Palavras-chave:
Crise Hídrica, Abastecimento de Água, Desigualdade Ambiental, Construcionismo Ambiental, Mobilização de Viés, Rio de JaneiroResumo
Este artigo problematiza o discurso sobre a crise hídrica nos anos 2014-2015, discutindo as estratégias de legitimação e seu papel na exclusão da questão da desigualdade no acesso à água dos espaços decisórios. Duas perspectivas teóricas são mobilizadas. A primeira compreende que a construção dos problemas ambientais envolvem as dimensões material e simbólica. A segunda perspectiva baseia-se na “face invisível do poder”, i.e., na capacidade de elites mobilizarem valores sociais e o viés do sistema político para manter certos temas fora da agenda política. A investigação concentra-se na cobertura da mídia e na CPI da Crise Hídrica da Alerj, mobilizando análise documental e observação direta. Os resultados apontam que a consolidação de um discurso centrado na noção de crise favorece a perspectiva do abastecimento como problema quantitativo, em detrimento dos aspectos distributivos, e legitima a implantação de grandes obras de aumento de produção de água.
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