Mulheres no sistema prisional: Por que e como compreender suas histórias?

Autores/as

  • Cátia Regina Muniz <= Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer
  • Guilherme Bergo Leugi Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer/University of South Australia
  • Angela Maria Alves Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer

DOI:

https://doi.org/10.18829/rp3.v11i2.26945

Palabras clave:

pesquisa qualitativa. egressas do sistema prisional. políticas públicas. metodologia de pesquisa. história de vida

Resumen

A proposta deste artigo é apresentar uma abordagem possível para investigação das condições que levam mulheres ao encarceramento, e também as condições que estas mesmas mulheres enfrentam ao deixar a tutela do Estado, concentrando-se na qualidade de vida e de reinserção social após encarceramento e também nos direitos da mulher. Neste sentido, apresentamos a importância de ouvir tais mulheres, enfatizando o método e a técnica de pesquisa utilizados para coleta e análise de dados e também quais são os referenciais analíticos que fundamentam esse ouvir. Concentramos o foco de investigação nas egressas do sistema, visto que seus relatos permitem reunir informações sobre como eram as condições de vida antes, durante e após sua prisão. Mais especificamente, discutimos a adequação metodológica do estudo de caso e das histórias de vida para a investigação deste tipo de fenômeno, com potenciais implicações para além da análise do sistema prisional. Os pressupostos analíticos se basearam em teorias que trabalham com a desconstrução de oposições binárias. O objetivo da escuta da narrativa dessas mulheres não é apenas entender suas condições de vida, mas também identificar possíveis ações de melhoria e coligir insumos de apoio à formulação de políticas públicas para egressas do sistema prisional.

Biografía del autor/a

  • Cátia Regina Muniz <=, Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer

    Pós-Doutora, Departamento de Sociologia, Instituto de Ciências Humanas (IFCH). Pesquisadora bolsista da Divisão de Acompanhamento e apoio a Políticas em Tecnologia Digital, do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (Campinas-SP).

  • Guilherme Bergo Leugi, Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer/University of South Australia

    Doutor em psicologia pela University of South Australia, mestre em filosofia, psicólogo e bacharel em psicologia pela Universidade Federal de São Carlos. É pesquisador bolsista da Divisão de Acompanhamento e apoio a Políticas em Tecnologia Digital do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, onde conduz investigação acerca do Sistema Prisional Brasileiro. É associado ao Centre for Social Change, da University of South Australia.

  • Angela Maria Alves, Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer

    Doutora em Engenharia da Produção, Politécnica, USP. Chefe da Divisão de Acompanhamento e apoio a Políticas em Tecnologia Digital do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer.

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Publicado

2018-01-24

Cómo citar

Mulheres no sistema prisional: Por que e como compreender suas histórias?. RP3 - Revista de Pesquisa em Políticas Públicas, [S. l.], v. 11, n. 2, 2018. DOI: 10.18829/rp3.v11i2.26945. Disponível em: https://periodicostestes.bce.unb.br/index.php/rp3/article/view/12449. Acesso em: 22 feb. 2025.