Cegueira e crueldade na narrativa de Tércia Montenegro
DOI:
https://doi.org/10.1590/10.1590/2316-4018543Resumo
Este texto aborda o romance de estreia da escritora cearense Tércia Montenegro, Turismo para cegos, que traça um retrato perverso da condição da cegueira. Parto do pressuposto de que não se compreende a crueldade que abrange a totalidade dos afetos nas relações engendradas no livro sem levar em conta os “pontos cegos” da história, que resultam de uma narração fora da experiência primordial da perda da visão. Assim, levando-se em consideração que a perspectiva seleciona o narrado, o que é descrito não deve ser percebido como tal, adquirindo o status de verdade, mas, sim, resultado de uma seleção que contamina tudo o que é dito. Uma vez que a história é ambientada no terreno das artes visuais, estão em jogo os limites entre o visível e o invisível. Para analisar esse conjunto de situações, mantenho-me próxima da letra do romance e do vocabulário de Jacques Derrida quando trata sobre as artes do visível.
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