Uma cartografia das amas-de-leite na sociedade carioca oitocentista
Résumé
O que significava ser “ama-de-leite” na sociedade carioca oitocentista? A pergunta orientou a trajetória de pesquisa, pela qual buscou-se analisar representações de “amas-de-leite” e das práticas do aleitamento na Corte Imperial. Em estudos da medicina, textos da imprensa, ofícios da administração pública, expressões da literatura e da iconografia, aparecem “amas-de-leite”, assim nomeados os corpos de mulheres africanas ou descendentes, geralmente negras ou pardas, que eram compradas, vendidas, alugadas para amamentar os filhos de famílias proprietárias. O conjunto discursivo revela a reiteração de um enunciado e uma política que, por meio de códigos institucionais e práticas positivas, visa a ordenar a sociedade escravocrata e patriarcal. Mensurados em valores financeiros e simbólicos, corpos de amas-de-leite aparecem designados sob marcas de sexogênero, raça-etnia, idade e de condição civil; articulam o alfabeto de sinais ou repertório de diferenças, significativo daquela arquitetura de relações e desigualdades sociais.