De que se trata a ergatividade cindida em Yawanawá?
DOI:
https://doi.org/10.26512/rbla.v16i1.55784Palavras-chave:
Ergativo, Nominativo, Acusativo, Caso abstrato, Línguas PanoResumo
Este artigo tem por objetivo investigar o sistema de alinhamento de Caso que a gramática da língua Yawanawá aciona em orações transitivas e intransitivas. Essa língua é falada pelo povo Yawanawá, no estado do Acre, e está afiliada à família linguística Pano. Argumentamos contra a hipótese que tem sido amplamente assumida, conforme a qual essa língua apresenta dois tipos de alinhamentos de Caso, o nominativo-acusativo [(A=S)≠O))] e o ergativo-absolutivo [(A≠(S=O))]. Concluímos que não há ergatividade cindida na língua Yawanawá, visto que o Caso ergativo é sistematicamente estendido a sujeitos (A) e (S) pronominais e a sujeitos (A) não pronominais. Em suma, propomos que sujeitos (A) e (S), que carregam os traços [+participante, +/-falante] e sujeitos agentes não pronominais de verbos transitivos recebem uniformemente o Caso ergativo. Assumimos ainda que o sujeito (S) não-pronominal de verbos intransitivos tem seu Caso abstrato valorado como nominativo e o objeto tem seu caso valorado como acusativo. Em síntese, propomos que a língua aciona um sistema tripartido de Caso, visto que três Casos abstratos são acionados para marcar os argumentos nucleares (A), (S) e (O). Os dados utilizados para a análise foram colhidos a partir da tese de Paula (2004) e da dissertação de mestrado Camargo-Tavares (2013).
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