A simbiose entre humano e não humano por meio da estética ecogótica pós-colonial de O colonizador, de G. G. Diniz
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-40187401Palavras-chave:
ecogótico, simbiose, pós-colonial, G. G. Diniz.Resumo
Pela análise da novela O colonizador, de G. G. Diniz (2020a), discutimos a representação da simbiose entre humano-fungo e sua correspondência na realidade social latino-americana e caribenha marcada pela colonialidade do poder. A narrativa passa-se no futuro, em um planeta glacial usado pela mineradora Astra para extração de metais. Em meio à exploração, foram encontradas reminiscências de vida senciente, e, nas amostras de gelo recolhidas, havia bolhas de ar com traços de uma espécie desconhecida de fungo que seria reanimada e analisada pela equipe de exobiologia, composta apenas do Dr. Costa e de sua auxiliar, Jandira. Por meio da experiência persecutória dessa personagem, a narrativa explora o medo de contaminação na perspectiva de uma protagonista cujos marcadores sociais de diferença representam, para a cultura gótica tradicional, “desvios” raciais e de gênero tratados como “contagiosos”. Assim, Diniz (2020a), como autora brasileira contemporânea comprometida com a questão ambiental e social, atualiza aquela tradição ao tensionar a ansiedade sobre a relação entre humanos e “não humanos” e a ideia de natureza como fonte de horror. Desse movimento, emerge uma alternativa ao modelo exploratório de se relacionar com o outro total do humano. Para fundamentar essa discussão, baseamo-nos no pensamento de Ochy Curiel e Generoso (2020) para relacionar o conceito de colonialidade do poder ao extrativismo. Em seguida, contextualizamos os modos como o conceito de ecogótico pós-colonial é articulado em O colonizador como uma tecnologia discursiva que serve como antídoto à ecofobia de raiz colonialista.
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