O esvaziamento da atividade narrante d’Os cem menores contos brasileiros do século (2004), antologia organizada por Marcelino Freire
Palavras-chave:
narratividade; microconto; Marcelino FreireResumo
O presente artigo propõe-se a discutir razões, implicações e modos como Os cem menores contos brasileiros do século (2004) destoam, em razão do esgotamento narrante exposto em sua escritura, de textos ligados a uma estrutura narrativa mais ou menos estável, que é o conto nas suas épocas clássica e moderna. O estudo, portanto, perpassa três partes fundamentais: o debate sobre a possibilidade de escrita de um miniconto, subgênero do conto; o momento em que se objetiva destacar, na teoria e pelas exemplificações, a distância entre o miniconto e as microformas da antologia, que acabam por atender a uma modalidade genérica específica; e a seção na qual as microformas, ou “micro-escritas”, são contrastadas com o tipo que tem recebido, em pesquisas recentes, o nome de microficção. Resulta desse percurso a compreensão de que as cem “micro-escritas” vão além da dinâmica anticonto das microficções, uma vez que, no lugar de corromperem a sua narratividade por abrigar outros estruturantes genéricos, escolhem exauri-la, com o apoio da subtração da escrita, por estarem ancoradas pela expectativa, às vezes enganosa, de um leitor-escritor, apto para narrativizar o que, no máximo, foi insinuação de um relato, ou um discurso livre provido de mistério semântico.
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