A santificação da carne de Lilith
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-40187406Palavras-chave:
corporeidade, mitos, escrita feminina, narrativa contemporânea, literatura brasileiraResumo
Embora os mitos ainda habitem as mentes humanas, eles são revisitados e constantemente reescritos, atualizados. Pensando essas questões, o mito de Lilith foi constantemente redefinido por diferentes crenças, muitas vezes com o intuito de apagá-la ou ressignificá-la como demoníaca. Atualmente, seu mito foi ascendido do local de apagamento que a resignaram, para servir, muitas vezes, de símbolo de subversão da imagem feminina. Assim, comumente utilizada nas análises feministas como imagem de empoderamento, Lilith vem sendo reconhecida na literatura como mártir. Com isto em mente, este estudo investiga a imagem de Lilith no conto “Santa carne”, de Gabriela Leal (2022), presente na obra A língua da Medusa; e no poema “As querências de Lilith”, de Mika Andrade (2019), presente na Antologia erótica de poetas cearenses O olho de Lilith. Por conseguinte, por meio de uma análise comparatista, o intuito é averiguar como a narrativa de Lilith é construída na literatura contemporânea brasileira e compreender como os mecanismos de subversão da narrativa bíblica são quebrados por meio de seu corpo em ambas as produções textuais. O corpo, em ambas as obras, se mostra elemento central na subversão e na tomada de poder de Lilith, o que evidencia a necessidade de análises sobre a corporeidade da personagem. Para tanto, busquei aporte teórico em Mircea Eliade (1972, 1992); Roberto Sicuteri (1985); Barbara Black Koltuv (2017); Adam McLean (2020); e Janet Howe Gaines (2024) para estudar sobre mito feminino; e Judith Butler (1993), Rachel Soihet (2002), Simone de Beauvoir (2016) e Silvia Federici (2020; 2023) para analisar a questão feminina e de corporeidade impregnada na narrativa judaico-cristã.
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