O gosto pelas coisas mortas: Uma leitura de Diorama, de Carol Bensimon
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-40187405Palavras-chave:
narrador, espaço, literatura brasileira contemporâneaResumo
O trágico assassinato de João Carlos Satti, conhecido político e jornalista de Porto Alegre, mobiliza a mídia e a sociedade gaúchas nos anos de 1980; Cecília, a filha do principal suspeito e colega de assembleia legislativa, reconta esses acontecimentos, mapeando a cidade que abandonou para se transformar numa bem-sucedida taxidermista nos Estados Unidos. Esse é o mote de Diorama, romance de Carol Bensimon (2022), que mergulha na ficcionalização de um dos crimes mais emblemáticos que o Rio Grande do Sul já presenciou: o assassinato do jornalista e deputado estadual José Antônio Daudt, figura forte e polêmica do cenário gaúcho da época. Equilibrando-se entre a história vivida e a história imaginada, a autora lança mão de uma narradora complexa, que se divide entre dois tempos distintos: o da infância, nos anos 1980, e trinta anos depois, quando vive nos Estados Unidos e decide retornar a Porto Alegre. Esse artigo pretende investigar os artifícios narrativos da engenhosa construção de Diorama, que ora traz uma voz em terceira pessoa, ora em primeira, ao mesmo tempo em que debate a importância do espaço na concepção da personagem e da obra como um todo: a casa de Porto Alegre; os museus onde a protagonista trabalha; lugares e não lugares que refletem as ações de Cecília e adensam o caráter tanto intimista quanto de investigação policial do romance. Para além disso, Diorama resgata um crime de homofobia no silenciamento das vozes dos grupos minorizados, mesmo daqueles que flertam com o poder, como foi o caso de Satti/Daudt. Como engrenagem teórica, o texto utiliza-se de nomes como Brian Richardson, Otto Bolnow, Marc Augé, Erich Fromm, Luis Alberto Brandão, Luiz Antonio Assis Brasil, entre outros.
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