A criminalização do baile funk e do rap e o genocídio negro nas cidades do Rio de Janeiro e de Lisboa

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0102-6992-20243902e48167

Palavras-chave:

rap, baile funk, juventude negra; criminalização

Resumo

Este trabalho reflete sobre a criminalização do baile funk e do rap no contexto brasileiro e português. Estamos interessados em refletir sobre as condições históricas, políticas e institucionais que normalizam um regime de exceção permanente ao qual a polícia e o sistema de justiça sujeitam as pessoas racializadas e suas formas de expressão artística. A criminalização da arte produzida pela comunidade negra tem servido para associar raça, território e perigo e para deslegitimar as manifestações artísticas que denunciam as práticas de racismo cotidiano vividas por essa comunidade. A criminalização do baile funk e do rap nos leva a problematizar os termos em que os estudiosos brancos discutem as políticas de segurança para a juventude negra e as favelas. Além disso, torna-se imperativo qualificar o debate sobre cidadania. O movimento negro desafia esta gramática e coloca a existência do racismo institucional no centro da discussão sobre a criminalização da juventude negra.

Biografia do Autor

  • Danielle Pereira de Araujo, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

    Doutorado e mestrado em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. Investigadora no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal.

  • Bruno Muniz, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

    Doutorado em Sociologia na London School of Economics and Political Science, Londres, Reino Unido. Investigador em pós-doutoramento no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal.

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Publicado

22-08-2024

Como Citar

A criminalização do baile funk e do rap e o genocídio negro nas cidades do Rio de Janeiro e de Lisboa. (2024). Sociedade E Estado, 39(02), e48167. https://doi.org/10.1590/s0102-6992-20243902e48167

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