A história de vida do não lugar: reflexões sobre a transgeneridade não-binária no Candomblé

Autores

  • Mar Borges Afonso Universidade Federal de Minas Gerais
  • Melina Sousa da Rocha Universidade Federal de Minas Gerais

DOI:

https://doi.org/10.26512/revistacalundu.v8i2.55844

Palavras-chave:

Candomblé, Transgeneridade, Não binareidade

Resumo

Esse estudo busca refletir sobre a experiência de uma pessoa transgênera não-binária, como iniciada no Candomblé. Considerando que as dinâmicas de gênero, pautadas na lógica binária, foram construídas pela colonialidade, buscamos refletir sobre como essas concepções também estão presentes nas religiões afro-brasileiras e excluem corpas que não se identificam pela dicotomia homem e mulher. Para realizar essa reflexão, utilizou-se o método história de vida para entrevistar uma pessoa trans* não-binária, iniciada em um Candomblé de Nação Ketu. Com isso, o estudo realizou uma revisão de literatura com vistas a contextualizar a percepção presente nessa tradição sobre as identidades de gênero, para dialogar com a experiência vivida. Observou-se a necessidade de acionar a filosofia da encruzilhada como forma de criticar as percepções de gênero tradicionais, reproduzidas nos Candomblés brasileiros, uma vez que a divisão social do gênero está diretamente relacionada às ideologias coloniais e não às cosmopercepções africanas.

Biografia do Autor

  • Mar Borges Afonso, Universidade Federal de Minas Gerais

    Graduande em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Arte-educadore, artista visual e percussionista.  Agente Comunitárie de Saúde (ACS). Cofundadore e integrante do Timbuctu - Coletivo Negro de Nova Lima, em Minas Gerais. 

  • Melina Sousa da Rocha, Universidade Federal de Minas Gerais

    Professora de Língua Portuguesa para Ensino Fundamental II na rede estadual de Minas Gerais. Licenciada pela Faculdade de Letras (FALE) e Mestra em educação pela Faculdade de Educação (FAE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).Compõe a Cooperativa de Pesquisadores Negros (CPP) como instrutora de análise de gênero, raça e classe. Foi monitora na Formação Intercultural de Educadores Indígenas (FIEI). Desenvolveu pesquisas junto ao Núcleo de Estudos Raciais e Ações Afirmativas (NERA), que integra o programa Ações Afirmativas da UFMG, e ao CEALE (Centro de Estudos em Alfabetização e Letramento) . Participou como bolsista e pesquisadora no programa de Ensino, Pesquisa e Extensão Conexões de Saberes, vinculado a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG (FAFICH).

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Publicado

2025-02-02

Como Citar

A história de vida do não lugar: reflexões sobre a transgeneridade não-binária no Candomblé. (2025). Revista Calundu, 8(2), 75-97. https://doi.org/10.26512/revistacalundu.v8i2.55844