A personagem do romance brasileiro contemporâneo:

1990-2004

Autores

  • Regina Dalcastagnè

Resumo

O artigo apresenta e discute os resultados de uma pesquisa sobre os 258 romances de autores brasileiros publicados pelas três mais importantes editoras do país entre 1990 e 2004. Os dados mostram que o romance brasileiro contemporâneo privilegia a representação de um espaço social restrito. Suas personagens são, em sua maioria, brancas, do sexo masculino e das classes médias. Sobre outros grupos, imperam os estereótipos. As mulheres brancas aparecem como donas-de-casa; as negras, como empregadas domésticas ou prostitutas; os homens negros, como bandidos. Assim, o campo literário, embora permaneça imune às críticas que outros meios de expressão simbólica costumam receber, reproduz os padrões de exclusão da sociedade brasileira.

Referências

ARAÚJO, Joel Zito. A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira. São Paulo: Editora Senac, 2000.

BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Trad. de Aurora Fornoni Bernardini et al. São Paulo: Editora Unesp, Hucitec, 1988.

BOURDIEU, Pierre. “La production de la croyance: contribution à une économie des biens symboliques”. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, nº 3. Paris, 1977, pp. 3-43.

______. La distinction: critique sociale du jugement. Paris: Minuit, 1979.

______. “Gênese histórica de uma estética pura”, em O poder simbólico. Trad. de Fernando Tomaz. Lisboa: Difel, s.d.

______. As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. Trad. de Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

______. (com Loïc J. D. Wacquant). Réponses. Paris: Seuil, 1993.

CAMARANO, Ana Amélia. “Envelhecimento da população brasileira: uma contribuição demográfica”. Textos para Discussão, nº 858. Rio de Janeiro: IPEA, 2002.

CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira, 2 v. 6ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981.

COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico de escritoras brasileiras. São Paulo: Escrituras, 2002.

COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Trad. de Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.

COUTINHO, Afrânio e J. Galante de SOUSA (dir.). Enciclopédia da literatura brasileira, 2 v. Rio de Janeiro: FAE, 1989.

DALCASTAGNÈ, Regina. “Renovação e permanência: o conto brasileiro da última década”. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, nº 11. Brasília, 2001, pp. 3-17.

______. “Uma voz ao sol: representação e legitimidade na narrativa brasileira contemporânea”. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, nº 20. Brasília, 2002, pp. 33-77.

______. “Sombras da cidade: o espaço na narrativa brasileira contemporânea”. Ipotesi, nº 13. Juiz de Fora, 2003, pp. 11-28.

DAMASCENO, Caetana Maria. “Em casa de enforcado não se fala em corda: notas sobre a construção social da ‘boa’ aparência no Brasil”, em Antonio Sérgio Alfredo Guimarães e Lynn Huntley (orgs.). Tirando a máscara: ensaios sobre o racismo no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. Trad. de Waltensir Dutra. São Paulo: Martins Fontes, 1983.

FOUCAULT, Michel. L’ordre du discours. Paris: Gallimard, 1990.

FRASER, Nancy. Justice interruptus: critical reflections on the “postsocialist” situation. New York: Routledge, 1997.

FREIRE, Marcelino. Contos negreiros. Rio de Janeiro: Record, 2005.

GINZBURG, Carlo. “Sinais: raízes de um paradigma indiciário”, em Mitos, emblemas, sinais. Trad. de Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

GODINHO, Tatau et al. Trajetória da mulher na educação brasileira, 1996-2003. Brasília: INEP, 2005.

GOODIN, Robert. “Democratic deliberation within”. Philosophy and Public Affairs, vol. 29, nº 1. Princeton, 2000, pp. 81-109.

GORINI, Ana Paula Fontenelle e Carlos Eduardo Castello BRANCO. “Panorama do setor editorial brasileiro”. BNDES Setorial, nº 11. Rio de Janeiro, 2000, pp. 3-26.

GORZ, André. Métamorphoses du travail: quête du sens. Critique de la raison économique. Paris, Galilée, 1988.

GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Preconceito e discriminação: queixas de ofensas e tratamento desigual dos negros no Brasil. 2ª edição. São Paulo: Editora 34, 2004.

HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. Trad. de Maria da Penha Villalobos et al. 2ª edição. São Paulo: Edusp, 2005.

HENRIQUES, Ricardo. “Desigualdade racial no Brasil: evolução das condições de vida na década de 90”. Textos para Discussão, nº 807. Rio de Janeiro: IPEA, 2001.

LIMA, Luiz Costa. “Prefácio” a Flora Süssekind. Tal Brasil, qual romance? Uma ideologia estética e sua história: o naturalismo. Rio de Janeiro: Achiamé, 1984.

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. 17ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990.

MIGUEL, Luis Felipe. “Representação política em 3-D: elementos para uma teoria ampliada da representação política”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, nº 51. São Paulo, 2003, pp. 123-40.

______. “Utopias do pós-socialismo: esboços e projetos de reorganização radical da sociedade”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, nº 60. São Paulo, 2006, em fase de publicação.

PHILLIPS, Anne. The politics of presence. Oxford: Oxford University Press, 1995.

PITKIN, Hanna Fenichel. The concept of representation. Berkeley: University of California Press, 1967.

PRANDI, Reginaldo Segredos guardados: orixás na alma brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

RIBEIRO, João Ubaldo. Viva o povo brasileiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

SANT’ANNA, André. Sexo. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1999.

SANT’ANNA, Sérgio. “Um discurso sobre o método”, em A senhorita Simpson. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

SARRAUTE, Nathalie. L’ère du soupçon. Paris: Gallimard, 1956.

SHUSTERMAN, Richard. Vivendo a arte: o pensamento pragmatista e a estética popular. Trad. de Gisela Domschke. Rio de Janeiro: Editora 34, 1998.

SOARES, Sergei e Rejane Sayuri IZAKI. “A participação feminina no mercado de trabalho”. Textos para Discussão, nº 923. Rio de Janeiro: IPEA, 2002.

SÜSSEKIND, Flora. Tal Brasil, qual romance? Uma ideologia estética e sua história: o naturalismo. Rio de Janeiro: Achiamé, 1984.

TAYLOR, Roger L. Arte, inimiga do povo. Trad. de Maria Cristina Vidal Borba. São Paulo: Conrad, 2005.

WILLIAMS, Melissa. Voice, trust, and memory: marginalized groups and the failings of liberal representation. Princeton: Princeton University Press, 1998.

VENTURI, Gustavo, Marisol RECAMÁN e Suely de OLIVEIRA (orgs.). A mulher brasileira nos espaços público e privado. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.

VIEIRA, Luiz Renato. Consagrados e malditos: os intelectuais e a editora Civilização Brasileira. Brasília: Thesaurus, 1998.

YOUNG, Iris Marion. Inclusion and democracy. Oxford: Oxford University Press, 2000.

Downloads

Publicado

01/14/2011

Edição

Seção

Seção Tema Livre

Como Citar

A personagem do romance brasileiro contemporâneo:: 1990-2004. (2011). Estudos De Literatura Brasileira Contemporânea, 26, 13-71. https://periodicostestes.bce.unb.br/index.php/estudos/article/view/9077

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)

1 2 > >>