Entre-alteridades que pulsam: o motivo do olhar nas narrativas de Clarice Lispector
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-40187312Palavras-chave:
Clarice Lispector; animismo; alteridade.Resumo
O presente artigo baseia-se na hipótese de que é possível reconhecer nas narrativas claricianas uma espécie de consciência anímica, que refletiria a ideia da crença em mais de um mundo ou natureza, oculta sob os mantos da civilização/domesticação humana. Os seres não humanos, sobretudo os animais, ganham nas prosas de Clarice Lispector um lugar de perspectiva que os definem na relação com o outro e com o mundo. Conforme esse pressuposto, o artigo dedica-se à análise de algumas passagens em contos de Clarice, com especial atenção ao conto “Amor”, dando ênfase ao olhar e ao motivo do olhar nas narrativas, na busca pela compreensão — anímica — dessas relações entre as personagens. A partir do momento em que ousam olhar o mundo não apenas como um constructo civilizacional dito humano, tais personagens, humanas e inumanas, ampliam seu olhar para aquilo que é diferença, lançando-se ao mistério da alteridade.
Referências
BATAILLE, George (1992). A experiência interior. São Paulo: Ática.
BORELLI, Olga (1981). Clarice Lispector: esboço para um possível retrato. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
CASTRO, Eduardo Viveiros de (2002). Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena. In: CASTRO, Eduardo Viveiros de. A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac Naify. p. 345-400.
CASTRO, Eduardo Viveiros de (2007). A natureza em pessoa: sobre outras práticas de conhecimento. In: ENCONTRO VISÕES DO RIO BABEL. CONVERSAS SOBRE O FUTURO DA BACIA DO RIO NEGRO. Instituto Socioambiental e Fundação Vitória Amazônica. Disponível em: https://docplayer.com.br/7499345-A-natureza-em-pessoa-sobre-outras-praticas-de-conhecimento.html. Acesso em: 3 jan. 2023.
GNUTZMANN, Priscilla de Souza Klein; FERREIRA, Rony Márcio Cardoso (2020). O motivo do olhar: mistérios da animalidade segundo C. L. Revista da Anpoll, Florianópolis, v. 51, n. esp., p. 58-74. https://doi.org/10.18309/anp.v51iesp.1516
GUIMARÃES, Rodrigo (2008). A mística oblíqua na escritura de Clarice Lispector. Espéculo: Revista de Estudios Literarios, n. 40.
HEIDEGGER, Martin (1998). A Origem da Obra de Arte (1935/36). In: HEIDEGGER, Martin. Caminhos de Floresta. Tradução coordenada por Irene Borges-Duarte. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. p. 7-93.
KRENAK, Ailton (2019). Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras.
KRENAK, Ailton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras.
LATOUR, Bruno (2004). Politics of nature: How to bring the sciences into democracy. Cambridge: Harvard University Press.
LISPECTOR, Clarice (1977). A Paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco.
LISPECTOR, Clarice (1998). Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco.
LISPECTOR, Clarice (1999). A descoberta do mundo. São Paulo: Rocco.
LISPECTOR, Clarice (2016). Todos os contos. Rio de Janeiro: Rocco.
LISPECTOR, Clarice (2018). Todas as crônicas. Rio de Janeiro: Rocco.
NASCIMENTO, Evando (2012). Clarice e o não humano: rastros. In: NASCIMENTO, Evando. Clarice Lispector: uma literatura pensante. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. p. 48-60.
NODARI, Alexandre (2021). O infamiliar animismo de Clarice Lispector. In: PASSOS, Cleusa; ROSENBAUM, Yudith (org.). Um século de Clarice Lispector. Ensaios críticos. São Paulo: Fósforo.
STENGERS, Isabelle (2018). A proposição cosmopolítica. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 69, p. 442-464. https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i69p442-464
VALENTIM, Marco Antônio (2018). Extramundanidade e sobrenatureza: ensaios de ontologia infundamental. Florianópolis: Cultura e Barbárie.
VELASCO, Juan Martin (2004). El fenómeno místico en la historia y en la atualidad. In: VELASCO, Juan Martin. La experiencia mística. Madri: Trotta. p. 53-79.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Cleide Maria de Oliveira, Maria Cecília dos Santos Ribeiro Simões

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a) Os(as) autores(as) mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, sendo o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons de Atribuição-Não Comercial 4.0, o que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
b) Os(as) autores(as) têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho on-line (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) após o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
d) Os(as) autores(as) dos trabalhos aprovados autorizam a revista a, após a publicação, ceder seu conteúdo para reprodução em indexadores de conteúdo, bibliotecas virtuais e similares.
e) Os(as) autores(as) assumem que os textos submetidos à publicação são de sua criação original, responsabilizando-se inteiramente por seu conteúdo em caso de eventual impugnação por parte de terceiros.